Meio Ambiente e Sociedade

O Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga/GO


O Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga está localizado nos municípios de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre, situados no norte do Estado de Goiás. Representa o maior território quilombo do Brasil, com mais de 259 mil hectares, um verdadeiro santuário ecológico de Cerrado preservado que abriga inúmeras serras, rios, cânions, cachoeiras, constituindo uma das maiores belezas cênicas da Chapada dos Veadeiros. A formação do Sítio Histórico é fruto, também, da resistência de mais de 300 anos da luta dos afro-descendentes dessa região e hoje, ela representa cerca de 2.000 famílias, aproximadamente 8.000 pessoas, organizadas em mais de 20 comunidades e 42 localidades, distribuídas pelos vãos (vales) que mantêm viva a cultura Kalunga.


Foto 01: Cachoeira da Capirava. Engenho II.
Sítio Histórico Kalunga


Foto 02: Ponte sobre o Rio Paranã/GO,
próximo a Comunidade de Emas,
em Teresina de Goiás/GO.


O Turismo como elemento de desenvolvimento e geração de renda

O Brasil tem atributos naturais e culturais encantadores por toda sua extensão territorial. Singulares pela beleza cênica, fruto de misturas culturais ou forjados pelo isolamento, temos a cara da diversidade de ambientes e traços culturais que formam a base do nosso patrimônio socioambiental.

Por outro lado, desconhecemos a maior parte dessa riqueza. As distâncias, as condições de acesso ou a completa falta de infraestrutura perpetuam nossa ignorância. Por isso mesmo que trago a vocês a experiência de estar participando da execução do Projeto Kalunga Sustentável: Cidadania e Geração de Renda.



Foto 03: Memorial Kalunga Casa de Lió. Elementos da cultura
Kalunga sendo valorizados por outros projetos.



Foto 04: Rio do Prata. Caminho para Capela Vão do Moleque.
Sítio Histórico. Município de Cavalcante/GO.


Esse Projeto, patrocinado pelo Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania, deu condições à Associação Quilombo Kalunga (AQK), a Associação mãe das comunidades Quilombolas Kalungas do nordeste goiano, de iniciar a construção de três bases, interdependentes, de geração de renda e cidadania:

1. O desenvolvimento de capacidades na área do ecoturismo1, com a capacitação de guias e cozinheiras para melhorar a recepção de visitantes no Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga. No que se refere ao ecoturismo, contará com investimentos na divulgação, na sinalização das trilhas e dos atrativos, entre outros;

2. O desenvolvimento de capacidades nas áreas do agroextrativismo e beneficiamento dos frutos do Cerrado, com objetivo de difundir técnicas de coleta e processamento destes recursos naturais de forma sustentável; e

3. O desenvolvimento de capacidade de lideranças sociais em negócios sustentáveis, em especial na elaboração de planejamento estratégico, gestão de projetos e questões administrativas & financeiras.


Sob o aspecto institucional de implementação, a Aimará foi contratada para coordenar os trabalhos de ecoturismo, articulação institucional e acompanhamento da implementação do Projeto, além de ter participado da elaboração do escopo do Projeto. Foi contratada também uma empresa para os produtos de comunicação, coordenada pelo Cléber Machado, e estabelecida uma parceria com o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), uma ONG com 20 anos de tradição atuando no cerrado brasileiro. Esperamos ao longo dos trabalhos envolver novos parceiros.

Ainda sobre a execução do Projeto, a AQK contratou como funcionários quatro pessoas do próprio Sítio Histórico Kalunga, sendo 3 Assistentes de Projeto (um de cada município do Sítio Histórico) e um Motorista; e um profissional para atuar como coordenador técnico.

Por intermédio da implementação do conjunto das atividades previstas no Projeto espera-se promover uma melhoria na qualidade de vida do povo Kalunga, também, a partir do aumento da renda per capita.

Foto 05: Reunião comunitária na comunidade Capela Vão do Moleque.
Sítio Histórico. Cavalcante/GO


O perfil do turista no Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga

O perfil do (eco)turista, em especial o interessado pela Chapada dos Veadeiros no nordeste do estado de Goiás, tem peculiaridades. E a primeira característica que nos cabe a apresentar é sobre o perfil dos visitantes. Eles são formados por grupos, responsáveis por 83% dos visitantes ao PNCV. Entre eles, temos que 75% são formados por contingentes de 2 a 5 pessoas. Igualmente, é interessante notar que 92% desse público não inclui crianças (EMBRATUR e FIPE, 2002), caracterizando um perfil mais homogêneo em termos de habilidades e disposição para o ecoturismo e suas condições específicas de realização - e muitas vezes bastante precárias.

A prática do ecoturismo com qualidade encontra excelente recepção na região, principalmente, quanto ao que se refere à troca de informações pouco mais técnicas sobre a realidade do ecossistema local, sua dinâmica e seu contexto geográfico. Contribui para essa perspectiva o grau de instrução dos freqüentadores do PNCV: 82,3% com nível superior completo ou incompleto – mais do que o dobro da média nacional (EMBRATUR e FIPE, 2002).

Outros elementos, tais como o ‘principal meio de transporte’ (carro próprio atinge 55% da amostra) e a ‘faixa de renda’ (60% ganham acima de R$ 2,5 mil reais/mês) apontam para um turista consciente e exigente por produtos de qualidade em níveis superiores a média nacional, com folga.

Foto 06: casa de adobe. Sítio Histórico e Patrimônio Cultural
Quilombo Kalunga. Município de Cavalcante/GO.

Foto 07: Organização de tampas de panelas.
Vão de Almas. Sítio Histórico.

No Sitio Histórico e Patrimônio Cultural Quilombo Kalunga, em especial no Engenho II – principal destino para o ecoturismo dentro do Sítio Histórico -, estamos contribuindo para o detalhamento e atualização desse perfil a partir da aplicação de um formulário de satisfação do turista sobre a prestação do serviço contratado e a qualidade do mesmo. A AQK, a Associação de Guias Kalungas, quatro refeitórios ali localizados e a pousada Sol da Chapada, em Cavalcante, estão apoiando essa iniciativa com uma gentil solicitação de preenchimento de formulários após a visitação dos atrativos.

Antes da aplicação do formulário, estabelecemos um procedimento metodológico visando dar sustentação à base de dados. Nossa opção metodológica foi por uma estimativa da ‘amostra do estudo’ dentro de um procedimento aleatório (não induzido sobre uma tipologia específica do grupo de turistas) e por conveniência (turistas que almoçam no Engenho II, por exemplo) sobre a população-alvo de turistas. E não se pretende que todo o universo de turistas do Engenho II seja atingido com os formulários.



Foto 08: grandes dificuldade no deslocamento - rios e
serras como obstáculos.

Foto 09: Tinguí, já aberto, para produção de sabão.
Comunidade do Prata. Cavalcante/GO.



Os Primeiros Resultados da Pesquisa de Satisfação do Turista

A pesquisa de satisfação do turista foi elaborada com o propósito de se monitorar alguns dos indicadores de execução do Projeto Kalunga Sustentável. Aproveitamos a oportunidade para incluir questões sobre o perfil do visitante e os primeiros resultados não só confirmam o perfil do turista da Chapada dos Veadeiros, mas também, está permitindo um diagnóstico situacional dos atrativos a partir da rica visão dos clientes. Acredito que é a primeira vez que os clientes, nessa região, têm a oportunidade de sugerir medidas para a melhoria do serviço prestado pelas comunidades Kalungas do Sítio – foco principal da iniciativa.
Os resultados também mostram um direcionamento do fluxo da atividade turística para somente dois dos vários atrativos localizados dentro do Sítio Histórico, no que se refere ao município de Cavalcante: por enquanto, os resultados apontam que 98% da visitação está sendo realizada nas cachoeiras de Santa Bárbara e Capivara. Os guias também têm sido igualmente bem avaliados e 90% dos turistas aprovam o serviço prestado - ninguém fez nenhuma avaliação negativa! (Aimará Gestão Ambiental, 2011).

Especificamente sobre o perfil do ecoturista, até agora temos que 95% dos turistas no sítio histórico declararam ter nível superior como sua escolaridade (Aimará Gestão Ambiental, 2011). Impressionante, não? Outros aspectos sobre a segurança das trilhas, sinalização, atrativos mais visitados, avaliação sobre o serviço de guias e refeitórios, entre outras questões, também foram monitorados.

Foto 10: Condições precárias para a integração
entre as comunidades.


Encerramos nossa participação nesse projeto em março de 2012.
Um abraço a todos,
Aimará Gestão Ambiental

Um comentário: